A comerciante Nice Figueiredo Brito e a costureira Marlene Goulart são duas brasileiras unidas pelo mesmo desejo. "Eu sentia falta de ter uma boneca. Acho que toda menina tem instinto de mãe. Então, a gente quer fazer uma boneca", comenta Marlene.
Da imaginação infantil, saiu a superação da pobreza. E do trapo, o brinquedo preferido.
"Bonequinha de pano mesmo. Eu fazia um tipo de uma cabecinha e punha um chapeuzinho. Era um brinquedinho bem simplesinho, mas era o que eu podia ter na época", lembra Marlene.
Quase 60 anos depois, em Araxá, no interior de Minas Gerais, Marlene mantém o mesmo engenho criativo. A menina que fazia bonecas agora faz da própria casa um hospital de brinquedos. Tudo que vai para lá é consertado e fica como novo.
Todo mundo já sabe que na sala da casa de Marlene, à medida que o fim do ano vai se aproximando, os brinquedos vão tomando lugar das pessoas. Um dos quartos, por exemplo, não tem mais espaço, está tudo pronto e embalado do para distribuição.
Há brinquedos espalhados por todos os outros cômodos da casa. Alguns esperando pelo conserto e outros já restaurados. Mas é passando pela cozinha que chegamos ao lugar onde acontece, de fato, a transformação ansiosamente esperada pelas crianças pobres de Araxá.
Costureira afamada na cidade, Marlene teve que se aposentar depois de uma cirurgia nas mãos. Mas de tanto ver criança sem alegria no Natal achou que tinha de retomar à velha máquina de costura. "Se não tinham alimento nem roupinha, o que era necessário, um brinquedo então era impossível. Foi quando eu comecei", conta.
Começou pedindo quinquilharias na vizinhança. Qualquer brinquedo velho servia. "Uma delas, por exemplo, eu pensei que não teria conserto porque chegou só com um braço. Como era muito grande, pensei que não viria outra igual. E apareceu outra com um braço. Uma tinha o braço direito e a outra, o esquerdo", explica ela.
Peças avulsas são separadas em caixas e são fundamentais para fazer o conserto. "Eu falo para todo mundo que pode trazer rodinha, bracinho de boneca, cabecinha, tudo dá certo. Não precisa jogar fora porque aproveitamos", diz Marlene.
Hoje, só de olhar um carrinho, Marlene já sabe o que fazer. São dez anos de ofício. "Aprendi experimentando", conta.
No primeiro ano, foram 400 brinquedos. Mas, em 2007, foram quase 3 mil. "Eu acho que isso tem a ver com o meu passado, porque eu me sinto tão feliz. Parece que só agora estou brincando", acredita Marlene.
Antes da máquina, o tanque: o salão de beleza das bonecas. Marlene tem a ajuda da dona de casa Etelvina Aparecida de Castro, vizinha e amiga de anos que lava cada pecinha. Ela via Marlene envolvida o ano inteiro com a oficina. Aí, resolveu ajudar. "Eu achava lindo, e agora também estou apaixonada", diz.
Paixão e cuidado extremado, minucioso. "Depois a gente passa as roupas, para não ficarem amassadinhas. É como se fosse dos nossos filhos", diz Etelvina.
A dona da oficina cuida de tudo com o zelo de sua reputação.
"Eu acho que o importante é provar para as pessoas o que estamos fazendo com as coisas que elas dão. Porque elas me dão na confiança. Elas me dão uma sacola de bonecas e ninguém sabe o que eu vou fazer", comenta Marlene.
As doações hoje chegam do país inteiro e permitem planejamento a longo prazo. "Vai sobrar para o ano que vem. Vamos começar em fevereiro", adianta Marlene.
Um ano inteirinho, exaustivamente preparado em função de um único dia. "O dia da entrega é um dia especial. Às vezes, vamos distribuir os brinquedos e custamos até a falar, porque sentimos uma emoção muito forte. Em qualquer momento que eu falo, fico emocionada", conta Marlene.
Este ano, a entrega aconteceu no sábado passado. Foi a mesma festa, como das outras vezes. Mas quando uma criança encontra um brinquedo, há sempre razões para se surpreender.
"É rápido, acaba num instantinho. E quando chego de volta e não acho os brinquedos, sinto a casa vazia. Fico doida para começar de novo e encher a casa. É muito bom", garante Marlene.
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Me emocionei com sua história de vida, você é fantástica,parabéns mais uma vez por esse trabalho lindo , que suas mãos jamais percam essa capacidade de tranformação e que a missão de ajudar o próximo creça a cada brinquedo doado , Deus te ilumine e esteja sempre com você ! Sonia Maria .
ResponderExcluirFaça mais postagens para que eu possa publicar mais e enaltecer esse trabalho , linda história.
ResponderExcluirquero te convidar também a um grupo de blogueiro que eu mantenho, se houver interesse seria para nos uma honra
http://www.facebook.com/groups/399811696711781/
agradecemos sua visita.Nosso trabalho se encerra no final do ano com a entrega de todos os brinquedos para as crianças carentes, de várias cidades do Brasil.portanto estaremos sempre postando algo de novo para que nossos amigos acompanhem nosso trabalho.iremos visitar seu grupo.
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